top of page
Search

A otimização de personagem maximiza ou minimiza a diversão? - Dose de XP #10

Updated: Mar 26, 2023

A otimização, o minmax, o combo, enfim, tudo que o Braz faz diariamente – isso é bom ou ruim para o RPG?

O que é minmax?


Minmax é um conceito que vem da teoria dos jogos e significa otimizar a tomada de decisões por meio da estatística. A palavra faz referência à maximização do ganho mínimo. O termo pode ser utilizado nas situações em que o jogador conhece as regras gerais que regem o curso dos eventos, existem incertezas, e as escolhas independem de outro jogador.


Em RPG, o minmax geralmente acontece na montagem da ficha do personagem. Isto é, quando o jogador escolhe classes, raças, itens e habilidades que, combinados, produzirão o personagem mais forte possível. Alternativas ao minmax seriam a composição de um personagem por uma abordagem naturalista (em que a progressão é formada por decisões que simulam o desenvolvimento verossímil de uma pessoa) ou orientada pelo efeito dramático. São métodos de criação de personagem que podem criar situações narrativas interessantes, mas que produzem personagens matematicamente mais fracos.


É bom ou ruim?


Como todas as outras perguntas deste mundo, a questão “minmax é bom?” pode ser respondida com depende. Depende do sistema, da campanha, da mesa, e de como o mestre guia o jogo. Como todas as réplicas que se iniciam com a palavra “depende” são inúteis, vou responder duas vezes, uma vez com “sim” e outra com “não”.


Otimização é bom para a diversão?


Sim.


Alguns sistemas (como o D&D 5e) imploram para que jogadores façam uso da lógica matemática para produzir seus personagens. As progressões das classes são claramente apresentadas de antemão e, se você fizer um bardo com baixa carisma, você merece carregar o peso morto do seu personagem como punição por não ter lido o Livro do Jogador.


Além disso, você pode encontrar diversão em procurar o caminho mais eficiente possível. Em D&D 5e, a maioria das campanhas faz uso de battle maps onde o movimento é contado e os inimigos se comportam de forma mais ou menos previsível. A graça é usar suas ferramentas (seu cérebro analítico) e projetar táticas para superar desafios.


Você pode criar seu personagem a partir do que lhe parece mais divertido e se comportar de forma circense – mas isso não significa que você não está otimizando, você está apenas relegando o design do personagem ao acaso, e ainda está tentando resolver problemas, mas de improviso e correndo o risco de ser ineficiente.


O combeiro contribui com o jogo?


Não.


Talvez o mestre tenha uma visão para sua campanha – os mestres frequentemente pertencem a essa sub-raça que são as pessoas de humanas, que gostam de interpretar e escrever aventuras de forma autoral. Nesse caso, o otimizador irá demolir a graça e os inimigos, que terão de ser feitos mais fortes para conter o praticante de minmax. Inimigos mais fortes batem de frente com o otimizador, mas derrotam facilmente os demais membros do grupo, que vão ser forçados a também usar a matemática para continuarem vivos. Pronto, o combeiro desvirtuou a ideia artística do mestre e arruinou toda a narrativa coletiva em que o grupo estava investido.


Existem outros RPGs em que o minmax simplesmente não pode ser praticado, por diversas razões. No cenário World of Darkness, sistema Storyteller, as regras são interpretativas e dependem de um acordo mútuo entre jogadores e mestres; um acordo que consiste em se guiar pelo efeito das habilidades e não por minúcias da mecânica. No cenário Call of Cthulhu, sistema Basic Role-Playing, a narrativa é o foco central e a evolução dos personagens é desprezível.


Nesses casos, o minmaxer vai se sentir um peixe fora da água. Provavelmente vai reclamar de “não conseguir agir” ou de estar sendo podado. Ninguém está o impedindo de participar como os outros, mas ele toma a inutilidade de seus esforços táticos como evidência de que aquela mesa não aprecia sua cooperação. O otimizador é um chato.


O fato é que, embaixo da inteligência analítica e matemática do otimizador, se esconde uma burrice monumental. Ele simplesmente é tapado demais para enxergar que o propósito de jogar RPG não é ganhar – aliás, RPG é um jogo em que a ideia de ganhar não faz sentido – mas, idiota para além de toda esperança, o combeiro insiste em tentar jogar videogame com dados, caneta e papel.


Minha opinião pessoal


Eu acredito que criar um personagem orientado pela otimização ou pelo drama é uma escolha que depende pouco da vontade do jogador. Existem jogadores com pendência para as exatas, com gosto pela pormenorização de regras, e existem aqueles que preferem participar da história e explorar ideias narrativas. Eu acredito que esses dois tipos de jogadores se beneficiam quando deixam suas zonas de conforto e são forçados a encarar o jogo pelas perspectivas trocadas. Eu acredito que é função do mestre criar um jogo que tenha espaço para todos contribuírem com suas individualidades. (Mesmo assim, eu ainda acredito que o combeiro é mais chato do que a média.)

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page